Dia 27 de abril se aproxima e achei por bem prestar homenagem antecipada a uma categoria, por conta de fato que tomei conhecimento em data recente e de um incidente em São Luís, ambos evocando a questão da igualdade entre os seres humanos. O tema é oportuno.
Refiro-me ao dia da empregada doméstica ou do empregado doméstico, essa(e) profissional que presta a todos nós relevantíssimos serviços, principalmente para os que trabalham fora e não têm condição de dar conta das tarefas domésticas.
São elas(es) que cozinham, lavam e passam nossas roupas, mantêm a casa limpa e arrumada, tomam conta dos nossos bens mais preciosos que são os nossos filhos, enfim, são essas pessoas que possibilitam que, ao fim de um dia de trabalho cansativo, possamos desfrutar do nosso refúgio particular em paz.
A despeito de toda a importância, conversando com amigas, tomei ciência que, infelizmente, hoje ainda tem quem ache que essa(e) profissional não pode andar no elevador social.
Ora, por que não poderia? Obviamente porque essas pessoas se acham melhores que as (os) empregadas (os) domésticas (os).
Sinceramente, esse tipo de pensamento, em pleno século XXI, assusta-me, causa-me perplexidade. Moro em casa e não imaginava que, em alguns prédios, nos dias de hoje ainda existissem pessoas que achem normal que essas (es) profissionais só pudessem andar no elevador de serviço.
Isso me fez lembrar a magistral obra de Gilberto Freyre, que li já faz tempo, “Casa-grande & senzala”. Só tem um detalhe: a primeira publicação dessa obra data de 1933 e descreve um cenário que nos remete ao Brasil Colônia.
Nesse sentido, sou obrigada a concordar com Manuel Bandeira, em num poema em louvor à obra de Freyre, quando na primeira estrofe afirma ser este um “Grande livro que fala/Desta nossa leseira brasileira”, entendido, como diz o dicionário, como sendo o caráter do que é tolo, parvo, idiota.
Mas sou otimista, entendo que isso é uma minoria e que a maioria deverá adotar como missão combater esse tipo de postura. Eu sou otimista, como o próprio Gilberto Freyre, que na poesia “O outro Brasil que vem aí”, professa: “Eu ouço as vozes/eu vejo as cores/eu sinto os passos/de outro Brasil que vem aí/mais tropical/mais fraternal/mais brasileiro”.
Esse otimismo, por sinal, é que me leva a acreditar que não foi esse tipo de pensamento elitista, que levou alguns, de um bairro de São Luís, a se opor a um empreendimento do Estado.
Não quero acreditar, mesmo com notícias que nos dão conta do contrário, que a turma não deseja o empreendimento para não ter pobre circulando pela vizinhança.
Recuso-me a acreditar, recuso-me a aceitar com normalidade que existam seres humanos melhores que outros; pecadores sim e todos, mas melhores nunca.
E, aí, volto ao mesmo poema de Freyre, compartilhando do seu sonho: “Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil, todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor/o preto, o pardo/o roxo e não apenas o branco e o semibranco”.
Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro é juíza de Direito.